Stop!! Hibari-kun!: O mangá da Shounen Jump protagonizado por uma personagem trans
Minha ideia para esse artigo era fazer algo parecido com o vídeo que a youtuber Hazel fez sobre o mesmo assunto. Entretanto, o vídeo não está mais disponível por algum motivo, e como não confio muito em minha memória, não quero arriscar dizer que todas as informações que estavam no vídeo estarão aqui também. Vou me focar em dar minhas opiniões como alguém que leu o mangá e assistiu parte do anime.
Stop!! Hibari-kun! é um mangá escrito por Hisashi Eguchi que foi serializado na revista Shounen Jump de outubro de 1981 a novembro de 1983. Compilado em 4 volumes tankobon, a história ganhou uma adaptação em anime de 35 episódios pela Toei Animation em 1983.
O protagonista dessa história é Kousaku Sakamoto, um simples garoto que acaba de perder a mãe e se muda para Tóquio para atender ao último pedido dela: ir morar com seu amigo Ibari Oozora. Ao chegar em Tóquio, Kousaku descobre Ibari é o chefe de um clã Yakuza, e tem quatro lindas filhas: Tsugumi, Tsubami, Hibari e Suzume. Para a surpresa de Kousaku, Hibari não é como suas irmãs: ela foi registrada como menino ao nascer. Esse é um segredo que apenas o clã Oozora sabe, já que Hibari vive e se comporta como uma garota comum dentro e fora de casa. Agora Kousaku, que tem a mesma idade que Hibari, precisa tomar cuidado para que ninguém na escola descubra o segredo de Hibari, para que a reputação da família não seja destruída.
Esse é um mangá de comédia pastelão, e não tem um enredo muito linear. São várias histórias pequenas cheias de piadas esdrúxulas (e muitas vezes de muito mal gosto com Hibari, principalmente quando Kousaku está negando os sentimentos que tem por ela.). Só acompanhamos o dia a dia de Kousaku e a família Oozora em casa e na escola, com diversos polígonos amorosos entre os personagens. Eu diria que há muitos elementos de comédia romântica na história, apesar de nenhum casal ser de fato concretizado em final. (Aliás, uma curiosidade: os dubladores de Kousaku e Hibari, Tooru Furuya e Satomi Majima se casaram em 1985.)
Por falar em final, esse mangá acaba de forma bem abrupta. Hisashi tinha uma dificuldade enorme em desenhar semanalmente, e alguns dos últimos capítulos são só um enorme desabafo do autor quanto a sua dificuldade em atender os prazos.
Para mim, a parte mais frustrante do final é a introdução de um outro personagem trans no último capítulo.
Esse rapaz chamado Gekijirou aparece de repente (na verdade deve haver algum motivo certo, só não estou me lembrando) e passa a morar na casa da família Oozora. Ao tomar banho junto com ele, Kousaku descobre que o rapaz não é cis, mas que foi registrado como garota ao nascer. Gekijirou diz que, apesar de “ser menina”, ele tem a “mente de um homem” e que, inclusive, está tomando hormônios masculinos. E por incrível que pareça, isso tudo acontece literalmente na última página do mangá. Gekijirou parece um personagem muito engraçado, desenhado sempre nesse estilo meio Hokuto no Ken dos shounens de porrada mais antigos.
Seria muito interessante ver como seria a interação de Gekijirou e Hibari, mas o mangá foi concluído há quase 40 anos e, mesmo com uma edição revisada tendo sido lançada em 2009, Eguchi não deu sinal de que faria alguma continuação. Atualmente, ele parece estar trabalhando mais com design de personagens para animes. Inclusive, ele fez o de Sonny Boy, anime que estreou na temporada de verão de 2021.
Nesse artigo, eu não queria entrar no mérito de discutir a identidade de gênero de Hibari, porque não acho muito produtivo. Nunca é dito com todas as letras se Hibari se identifica ou não como mulher trans, o que deixa algum espaço aberto para interpretação. O que vemos com clareza é que ela quer se tratada como menina, não quer ninguém na escola descubra seu gênero de nascimento, e demonstra interesse em ter seios. Acho que isso, somado a Gekijirou falando sobre tratamento hormonal no último capítulo, já nos dá um pouco de base para vê-la como tal.
Para finalizar, queria deixar essa citação do autor do mangá que gosto muito e que acho que explica bastante sobre Hibari-kun.
A garota ideal para mim é a que eu gostaria de ser, se nascesse como menina. Não é a garota que sonho em namorar. É a frustração de não ter nascido como mulher que alimenta meus desenhos.
Hisashi Eguchi
Referências:
Como não encontrei muitos artigos que falassem sobre Hibari-kun, a maior parte das informações daqui foram tiradas da página da Wikipédia sobre o mangá.